terça-feira, 31 de julho de 2012

Cara ou Coroa?

Como a personalidade e o caráter de um CEO interfere na condução da empresa

Será que o que um profissional é, na sua vida privada, tem influência sobre a forma como exerce a sua atividade? Qual a probabilidade de uma empresa enfrentar problemas relacionados a fraudes e erros em relatórios financeiros de acordo com a personalidade e conduta doméstica do seu CEO? Estas são perguntas que o estudo “Executives' "Off-The-Job" Behavior, Corporate Culture, and Financial Reporting Risk” (DAVIDSON R., DEY, A., SMITH, A., NBER Working Paper No. 18001, Junho 2012) tenta responder.
 
Analisando uma amostra de empresas americanas, os pesquisadores encontram um elo interessante entre simplicidade e rigor e desvendam alguns meandros dos mecanismos de contágio entre más práticas na vida privada e práticas igualmente corruptas na vida corporativa. Ou seja, hábitos frouxos na vida doméstica denunciam, via de regra, licenciosidade na esfera profissional.
 
Na pesquisa, foram usados registros de infrações prévias cometidas pelos CEOs das empresas em diversas práticas do seu cotidiano, tais como direção sob a influência de bebidas, posse de drogas, violência doméstica, comportamento imprudente, perturbação da ordem pública, multas por alta velocidade: interpreta-se as infrações legais como um sintoma de desprezo pelas normas e leis, bem como de falta de auto-controle.
 
Por outro lado, foram estudados também seus hábitos de consumo, posse de bens de luxo e exibição de sinais externos de riqueza: carros caros, barcos, múltiplas residências. Neste ponto, a ideia subjacente é que os que abrem mão de possuir e exibir bens de luxo são mais propensos a ter uma gestão mais rígida. A combinação da via “propensão” (baseada na conduta pessoal) com a via “cultura” (frugalidade) desenha um perfil de atuação específico, principalmente no cuidado das finanças da empresa.
 
Os pesquisadores descobriram que em ambos os casos (propensão e ostentação presentes) há um aumento de problemas no reporte financeiro das empresas. Nota-se que um CEO leniente na vida privada tende a contratar também um CFO pouco rígido e, nestes casos, a ocorrência de fraudes e reportes com problemas é maior; conclui-se então que a má conduta fora da empresa engendra um contágio para a vida corporativa, inclusive pela contratação de profissionais de perfil similar para o corpo executivo. Ou seja, o estudo indica o que já se sabe por outras vias: não se tiram peras de uma macieira. E mais ainda: na vida corporativa, assim é, se lhe parece.

Autora:

Mônica Carvalho é economista, mestre em negócios internacionais pela Universidade de Sophia, em Tóquio. Trabalha no mercado financeiro há quase vinte anos, tendo transitado por bancos de investimento no Brasil e na Ásia (Japão e China), onde viveu por dez anos. É professora associada da Fundação Dom Cabral. Nesta coluna ela trará, todas às terças-feiras, artigos acadêmicos com o olhar do espectador contemporâneo.

Publicado em 31.07.12

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