“É a tradução que abre a janela para deixar entrar a luz; que quebra a casca para podermos comer a amêndoa; que puxa a cortina de lado para podermos olhar para dentro do lugar mais sagrado; que remove a tampa do poço para podermos chegar à água.” (Prefácio da Versão Autorizada da Bíblia de 1611).
Quem já não se deparou com a impressão de uma legenda mal feita em seu filme preferido? O que vê escrito não era o que o galã ou a protagonista disseram no telão do cinema ou na TV. Bem, existem mesmo bons e maus profissionais em todas as áreas de atuação, porém o que poucos têm conhecimento é que a legendagem é cercada de técnicas e práticas, como por exemplo, quantidade limitada de caracteres e número de linhas que podem aparecer na tela, e ainda, o texto escolhido tem que ser condizente com a cena mostrada no mesmo segundo. Tudo isso, aliada com a criatividade e experiência do tradutor. Alguns até se especializam por área de atuação, como linguagem médica para o seriado Plantão Médico (ER), ou natureza e animais para os programas do National Geographic.
O que não deve acontecer é alguém que tenha viajado de férias ao exterior ou feito um intercâmbio de algumas semanas estar seguro que fará um bom trabalho de tradução sem conhecer as técnicas, práticas e teorias dessa área de atuação, disseminadas em bons cursos de graduação. Um médico, por exemplo, poderá ser um bom tradutor de artigos médicos se aliar ao seu conhecimento as técnicas de tradução. Um texto bem traduzido prima pela fluidez, nexo e exige amplo conhecimento da língua do texto original e do da língua de chegada, e não somente ter a preocupação de verter palavra por palavra, gerando um resultado pesado, e muitas vezes sem sentido.
A tradutora Lia Wyler, 75 anos, responsável pela versão em português dos Best Sellers de Harry Potter, teve o privilégio de tirar suas dúvidas com a própria autora, J. K. Rowling, pois ambas são contemporâneas. Trabalho belíssimo, realizado em pouco tempo, já que o lançamento era mundial, e contando com um time de revisores. Essa é uma das profissões em que a experiência, o tempo de atuação na área são valiosíssimos, reconhecidos pelo mercado de trabalho e bem remunerados.
Outro exemplo pitoresco é o da interpretação simultânea em conferências técnicas com cientistas de diferentes países. O tradutor/intérprete se prepara com antecedência prevendo os termos técnicos que serão abordados e aí, de repente para quebrar o gelo o conferencista solta uma piada ligada ao seriado infantil Teletubbies voltado para bebês e crianças pré-escolares. Se o intérprete não tiver filhos ou sobrinhos, ninguém achará graça, ou melhor, o trabalho não será bem feito.
O estudo e aprimoramento devem ser constantes para a excelência do trabalho do tradutor. O perfil do bom profissional, além de dominar muito bem sua língua materna e a língua que se dispõe traduzir, inclusive a cultura que envolve ambos os povos, deve ser uma pessoa curiosa, boa leitora, pesquisadora, com bom senso, dedicada, ética, responsável, intelectual, interessada em tudo ao seu redor desde bula de remédio até telenovela, e acima de tudo, “antenada” com o mundo.
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Este artigo é de autoria de Mônica Parlato e a publicado neste blog foi expressamente autorizada.
Qualquer reprodução, parcial ou total, deve ser mencionada a sua autoria.
Um abraço,
Meire Melo
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